Tia Yaiá e Tio Chico
Eu (Sandra), Aldenora (minha mãe), Sônia (minha irmã) e Tia Yaiá
Meus irmãos atiçam minhas saudades!
Desta vez as lembranças da infância se instalam
No sítio em Messejana, que pertencia aos meus tios
Yaiá e Chico
Messejana era um Distrito de Fortaleza
Hoje foi reduzido a um bairro de Fortaleza
Quando criança, ir para o sitio era uma viagem e aventura
e íamos sempre.
A BR 116 possuía apenas duas pistas: uma de ida, outra de
voltar
Ao longo da estrada, passávamos por um carnaubal
E nossos pais diziam ser parecido com o da Fazenda Bel
Monte...
Os ônibus dessa linha eram velhos, barulhentos e lentos
Teve uma vez, que até ficamos no prego de pneu
No meio da estrada, debaixo de uma mangueira...
Mas, chegar ao sitio era uma festa!
Tia Yaiá e Tio Chico nos recebiam muito bem
Sempre com conversas leves e brincadeiras que nos
divertiam
A Tia sempre falava que o pai me registrou no dia errado
Dizia que eu não tinha nascido dia 22 de julho
Mas sim, dia 23, no mesmo dia do aniversário dela!
Foi Tio Chico que me alertou pela primeira vez da
importância da ginastica
Ele tinha um quadro com um homem ensinando as posições de
ginasticas
Hoje sinto as consequências de não ter seguido estas
sábias orientações!
Tia Yaiá me ensinou a fazer crochê
Ela também tricotava, mas dizia que crochê era superior
Pois, para tricotar era necessário duas agulhas
E com apenas uma, o crochê se superava!
Tantas coisas! Tantas coisas! Tantas coisas!
E as comidas que a Maria fazia, supervisionada por titia!
Perfeitas!
Em pequenas travessas, uma boa variedade de coisas
Hoje tenho certeza, aquelas refeições eram abençoadas
Nos davam energia para andar e brincar pelo sitio o dia
todo!
Eu me lembro das mangueiras, dos cajueiros... das flores,
das orquídeas...
Tia Yaiá mandava colocar anil nas flores para elas
ficarem azuis...
No sitio tinha até umas ou duas vaquinhas!
Aproveitamos muitos, quando crianças, à companhia dos
meus tios!
O tempo passou e Tio Chico nos deixou
Foi uma tristeza só! A casa silenciou e nós fechamos em
uma só dor, junto com a Tia...
Até hoje, não sei exatamente porque ela permitiu vender
aquele sitio
Hoje, o sitio se tornou o lugar onde funciona o DETRAN...
Tia foi morar na Solon Pinheiro, aí as visitas que eram
dominicais passaram a ser diárias!
Nessa época eu tinha uns 16 anos e tive a permissão de
meus pais para trabalhar
Trabalhava à tarde, como digitadora, numa época que a
computação iniciava
No fim da tarde, passava na Tia Yaiá, que sempre oferecia
uma gostosa sopa!
Entre conversas e petiscos, riamos e falávamos sobre a
vida e os estudos...
Depois seguia para o Colégio Cearense...
Era um ritual muito agradável! Eu via sempre a Tia e a
Maria
Muitas vezes chegava de mansinho no horário que
rezavam...
Depois a Tia passou a morar mais perto ainda da gente
Na Rua Assunção... caminho do trabalho da mãe...
Mais visitas fazíamos, todos nós: pai, mãe, irmãos...
Com muita tristeza recebemos a noticia da partida da
Tia...
Tia Yaiá e Tio Chico ficaram marcados nas nossas lembranças,
nas nossas vidas...
Saudades, sempre!
(Texto: Sandra Maria de Aguiar Coelho. Foto: Arquivo: Família Aguiar Coelho)
A Casa de Messejana
(por Sônia Maria de Aguiar Coelho)
Aquela viagem era terrível. Aquele ônibus velho ia de Fortaleza a Messejana num balanço mareado, e eu ficava enjoada sempre. Às vezes o que aliviava era que mamãe me colocava na janela e para me distrair ia apontado para os carnaubais que havia ao longo da estrada e ia contando que na fazenda do nosso avô materno, Coronel Raimundo Inácio de Aguiar, tinha muitos iguais aqueles.
Aquela viagem era terrível. Aquele ônibus velho ia de Fortaleza a Messejana num balanço mareado, e eu ficava enjoada sempre. Às vezes o que aliviava era que mamãe me colocava na janela e para me distrair ia apontado para os carnaubais que havia ao longo da estrada e ia contando que na fazenda do nosso avô materno, Coronel Raimundo Inácio de Aguiar, tinha muitos iguais aqueles.
Quando chegávamos à casa de tia Yaya, Célia, na verdade, era sempre uma alegria e a certeza de que seriamos recebidos com sequilhos, bolos e uma rede sempre limpa e cheirosa, tiradas do baú que ficava no quarto do lado de fora da casa. Gostava de subir nas árvores, acompanhar a Maria nas idas a horta, cercada para nenhum animal invadir. Eu ainda sinto cheiro de castanha assada em uma lata e depois quebrada e comida ali mesmo. Gostava de ver Maria acocorada, e tinha uma técnica de sentar sem se mostrar, ela colocava o vestido no meio das pernas, acendia seu cachimbo e ficava ali, conversando, perguntando, ouvindo e rindo. E o tempo passava assim, colhendo frutas, varrendo a chão, tirando as ervam daninhas, catando o arroz e o feijão, fazendo comidas, lavando loucas e cuidando da gente. Enquanto Maria acompanhava as galinhas entrando no galinheiro, Tia Yaya ia banhar as meninas, eu e Sandra. Ainda hoje, sinto saudades e compro sabonete Palmolive, o verde, mas não encontro mais aquele cheiro de infância, acho que mudou.
Tio Chico, era um homem muito
tranquilo, sempre tratava a titia com amor e
respeito e gostava muito da gente e nos tratava com
carinho e muitas brincadeiras. Eu sempre dava um jeito de vê-lo fazendo
ginastica. Ele imitava as posições de um homem em um quatro que
ficava preso na parede. Depois ele ou ia ler ou ouvir radio com a titia do seu
lado. O que eu achava interessante era que a casa nunca
estava vazia, sempre com visitas. Eles eram queridos por todos.
As 6hs da tarde, a gente ia "tirar o
terço", tio Chico, tia Yaya, Maria e eu. Achava linda a meditação dos
mistérios (tia Yaya falava que eram rosas para Maria).Titia se ajoelhava
no genuflexório olhando os santos que ficavam no oratório (Não sei que fim
levou os moveis lindos da Titia).Toda as vezes que pego o terço, lembro desses
momentos.
Depois vinha gente de todos os
lugares para assistir televisão. Uns sentados no sofá de vime, outros no chão ou
da janela, em pé, do lado de fora.
Na hora de dormir eu ia à cama
deles e ficava ligando e desligando um abajur de vime e luz lilás que
ficava no criado mudo e depois ia dormir.
Creio que quando ela vendeu a casa de
Messejana, ela ficou muito triste mas, foi bom, pois ficou mais perto da gente.
Ela foi morar numa casa perto da casa de papai. Todos os dias eu e
ele passávamos lá. Eu estudava num colégio na Av. Duque de Caxias. A casa
era bem menor do que a de Messejana e cheia de pedra (cristais róseos).
Depois, ela foi morar na Rua da
Assunção ai era a vez da mamãe visita-la todos os dias, pois era
caminho do trabalho dela, D.A.E.R . Papai todos os dias dava noticias da
titia. Essa casa era ainda menor, escura e os moveis dela ficava num
galpão atrás da casa. Cobertos para não estragar. Lá tinha muito gatos e sempre
que eu chegava e não encontrava a Maria, ela está lá no quintal seguindo o
ritual do pitar o cachimbo.
Em 1979, fomos morar na Cidade
dos Funcionários e como tinha que ir à faculdade sempre dava um jeitinho
de ir visita-la.
Em 80, vim morar em Brasília, e
em novembro de 1981, mamãe estava comigo, pois tinha vindo para o
parto de meu primeiro filho, quando recebemos um telefonema dizendo
que Titia tinha falecido naquela noite. NO MESMO DIA entrei em trabalho
de parto e ficamos entre a tristeza da partida e a alegria da chegada.